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“Maria, filha do seu filho” (2000)

Rodolpho Bastos

Universidade Federal de Santa Catarina

História 

publicado em 25/04/2017

           

           Com o intuito de transcender a análise “conteudista” da linguagem cinematográfica, é possível concordar com Hans Ulrich Gumbrecht em sua obra “Produção de presença” quando lança as bases para se pensar os produtos midiáticos dentro da concepção daquilo que ele chama de “materialidades de comunicações”. Ou seja, são os diferentes meios que transportam a comunicação, onde um complexo de sentido não pode estar “separado da sua medialidade, isto é, da diferença de aspecto entre uma página impressa, a tela de um computador ou uma mensagem eletrônica”.

 

           Dessa forma, a mídia cinematográfica em sua materialidade fornece informações únicas e distintas que outras mídias não forneceriam. Um bom exemplo disso são os filmes do campo religioso, como a produção italiana “Maria, filha de seu filho” (2000) de Fabrizio Costa. Nesse filme, que aborda a vida da virgem Maria, observamos uma série de contradições em relação a Bíblia. Pois, se nos Evangelhos Maria quase não aparece, mesmo sendo a mãe do salvador Cristão, em que suas poucas passagens lhe condicionam ao silêncio, maternidade, submissão e ao ambiente doméstico, um dos motivos que a transformaram num modelo de feminilidade de obediência, reforçando uma mentalidade, comportamento, valores e normas patriarcais. 

 

           No referido filme, Maria rompe com essas informações, pois se apresenta de forma heterodoxa, confrontando o homem e a tradição; é dessacralizada quando é demonstrado sua iniciativa em  “flertar” e beijar seu noivo; assume a condição de Mestra de seu filho, além de ser capaz de realizar o sacramento do batismo e a liderança dos discípulos de Jesus, após sua morte. Essas imagens fílmicas são percebidas como fictícias, pois não encontram referência na Bíblia, embora o filme também apresente imagens canônicas.

 

           Através dessas imagens destoantes, a materialidade dessa mídia nos permite problematizar as motivações dessa ruptura com uma mentalidade milenarmente imposta, pois exibe a mulher como protagonista da história de vida do homem. Maria transforma Jesus em coadjuvante, empoderando-se e rompendo com um imaginário de submissão. Esse filme opera como eco de uma nova consciência de feminilidade ancorada nas pautas de lutas de movimentos liderados por mulheres no último século e  também como um vórtice, onde estão presente uma concepção do feminino, através de Maria, que dialoga (mesmo que não seja o retrato fiel) com uma determinada realidade histórica. 

 

           Em suma, pensar na “materialidades das comunicações” como uma categoria de análise para os trabalhos que envolvem as diversas mídias é abrir um leque de possibilidades que, por outras vias, pode passar despercebido. 

 

Desenvolvido por Ana Carolina Messa e Leilane Serratine Grubba

Cinema, Direitos Humanos e Sociedade: vias para o empoderamento.

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