"Laranja Mecânica" (1971)
Mayara Pellenz
Faculdade IBES/SOCIES
publicado em 02/05/2017
Mundialmente conhecido, o filme Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) é um filme anglo-estadunidense de 1971, adaptado do romance homônimo de Anthony Burgess, de 1962. Esta dica de filme, que se tornou um clássico do cinema, se justifica pela situação de balbúrdia da gangue liderada por Alex (Malcolm McDowell), na Inglaterra, em meio a imagens violentas que sinalizam para os distúrbios psiquiátricos, uso de drogas e atos infracionais de jovens sem limites pelas ruas da cidade. A trupe de Alex é composta por mais três jovens: Pete, Georgie e Dim, a quem ele chama de drugues (da palavra russa друг para "amigo", "camarada"). O desenvolvimento da história é em torno de situações de delinquência do bando de Alex, bem como uma tentativa de recuperação social deste personagem.
Sinteticamente, a ordem cronológica de Laranja Mecânica é a seguinte: numa noite de “ultra-violência”, sob efeito de substâncias ilícitas, a gangue agride violentamente - sem motivação aparente - um idoso sem teto, envolve-se numa pancadaria generalizada com uma gangue rival, e, por fim, além de espancar um conhecido escritor, estupram sua esposa. Alex, o líder do bando, é capturado pela polícia e informado que a vítima de seu último ataque está morta. Por este fato, o personagem é condenado a 14 anos de prisão. Neste local, candidata-se a um experimento para a reabilitação de criminosos, conhecido como Tratamento “Ludovico”. O procedimento consiste em drogar o indivíduo e restringir seus movimentos enquanto assiste imagens violentas. Para Alex, o efeito foi devastador, considerando o fato de que as imagens submetidas tinham como pano de fundo seu compositor clássico preferido, Beethoven, o que lhe causou imensa perturbação. Segundo o responsável pela técnica “Ludovico”, o resultado do procedimento, tendo Alex como cobaia, é um sucesso, o que faz com que o discurso para a disseminação da técnica seja intensificado.
Já nas ruas, após o “tratamento”, Alex vive como “sem teto”. Neste momento do filme, o personagem é curiosamente atacado por um bando integrado por uma de suas vítimas do passado. Encontra-se com policias que, nesse momento, são seus antigos comparsas Dim e George. Acaba por ser cuidado pelo escritor que espancou na época da delinquência juvenil, juntamente com seu mordomo. A relação entre os dois é abalada em definitivo quando o escritor ouve Alex cantarolando “Singin' in the Rain”: exatamente a música que tocava quando sua esposa foi estuprada pela gangue do próprio Alex. Após ouvir a Nona Sinfonia de Beethoven – que agora, de música predileta passa a lembrar da experiência de cobaia na prisão -, Alex tenta suicidar-se. Hospitalizado, é submetido a testes psicológicos que comprovam que nunca esteve curado pelo tratamento “Ludovico”..... A partir daí, o desfecho do filme é surpreendente, especialmente a cena final.
Em relação ao Direito, este clássico do cinema permite a reflexão sobre a juventude delinquente, o uso de drogas e a violência nas ruas. Todavia, ao nosso ver, merece destaque a realidade perversa que o Direito Penal seletivo traduz na política da exclusão, do estereótipo e do etiquetamento. Tal modelo é baseado na perseguição aos excluídos, na constante criminalização de condutas e na adoção de políticas criminais repressivas, tais como o filme retrata. Por isso, a dica é não apenas assistir o filme, mas sim, analisar de forma crítica e reflexiva todo o contexto retratado, à luz da Criminologia e do Direito Penal, para que sejam construídos argumentos pessoais a partir da linguagem proposta pelo cineasta em “Laranja Mecânica”, que, assim como outros grandes clássicos, nos parece mais atual do nunca.