"Costa-Gavras ... para relembrar o que são as ditaduras"
Horácio Wanderlei Rodrigues
Faculdade Meridional
publicado em 17/04/2017
Acredito que o cinema pode ser uma ótima arma para mostrar às novas gerações os riscos de uma ditadura e do completo desrespeito que elas possuem relação aos direitos – todos os direitos – de todos os humanos. Diariamente vejo jovens – e não tão jovens – defendendo o retorno dos militares ao poder. Os jovens não viveram a ditatura; e os mais velhos parece que estão com amnésia.
E em termos de cinema político não nada mais elucidativo do que as produções de Costa-Gavras. Grego naturalizado francês, ele se notabilizou pela produção de filmes de denúncia política. Vou aqui destacar três películas que permitem reviver acontecimentos da 2ª Guerra Mundial e das ditaduras militares do século XX.
O primeiro deles, em ordem cronológica, é Z (1969). Um filme em preto e branco – mistura de realidade e ficção – que expõe as entranhas do que acontecia na Grécia dos anos 1960. O assassinato de um político importante, a presença das forças armadas, os movimentos populares e a presença de um magistrado investigador são elementos centrais da trama que mostra um cenário comum às ditaduras em geral e que embora se refira à Grécia, caberia como descrição geral de todas as ditaduras latino-americanas do século XX.
O segundo é Estado de Sítio (1972). A história desse filme tem base em fatos reais: o sequestro, pelo grupo armado uruguaio denominado de Tupamaros, do cônsul brasileiro e de um agente americano. Ele contém uma excelente narrativa do que acontecia na América Latina dos anos 1970 com suas ditaduras militares. As cenas de tortura apresentadas – algumas com a bandeira do Brasil ao fundo – ilustram a forma de funcionamento dos regimes militares da época e como eles encaravam a democracia e o Direito.
O terceiro é Sessão Especial de Justiça (1975). É também um filme que mistura ficção e realidade e tem por tema um tribunal de exceção montado na França durante a 2ª Guerra Mundial com o objetivo específico de condenar à morte acusados do assassinato de um oficial nazista. Essa condenação era uma exigência dos administradores alemães de Paris em represália ao ocorrido. O filme mostra como, nos planos ético e jurídico, pode funcionar o utilitarismo.
Não são três filmes leves; pelo contrário. Mas são extremamente elucidativos de momentos históricos que não têm mais de 80 anos. Momentos que ainda possuem testemunhas oculares do que ocorreu. E que, no entanto, parecem esquecidos... porque se fossem lembrados, ninguém em sã consciência pediria a volta dos militares ao poder.